apenas um gole do café doce e ralo de minha avó é o suficiente para fazer uma viagem pra dentro de mim, para dentro de nós. me lembro das tardes de domingo, depois de me esbaldar no almoço eu corria para brincar no quintal, pegar jabuticaba no pé, chupar limão com sal e ouvir  os casos do meu irmão e minhas primas mais velhas. o apito que dava fim a brincadeira era a voz da minha tia dizendo: -tá na mesa! ela tirava um bolo de fubá quentinho do forno, uma travessa de pães de queijo, tirava da geladeira a margarina e o leite e do armário um pote de biscoitos de nata, enquanto a avó servia o café. sentávamos todos meio amontoados à mesa, com o estômago atento e os ouvidos famintos, ali nasciam todas as histórias, as antigas, as novas, as inventadas. -uuuuumm, eu dizia! com a boca ainda cheia e depois olhava de canto pra elas, cheias de orgulho. eu sinto que o tempo passa diferente ao redor da mesa, acho que ele estica e passa bem miudinho pra também testemunhar as histórias que vão ser contadas e vividas ali. quantas histórias cabem numa mesa de café? seria petulante dizer que todas ? quando minha memória escapa para lembrar de algum momento importante é ao redor da mesa que ela pousa. tem comida boa, conversa fiada e café docinho.