já faz uns dias que fui tomada por um desejo analógico de ser cafona. resolvi, então, te escrever uma carta, mesmo antes de ter as palavras certas – que quase nunca chegam. com as orações que me cabem agora, vou falar de saudade e me reservo o direito de ser démodé, coisa que não caberia em um torpedo, quiçá numa legenda!
sinto falta do tédio.
do silêncio que mora entre uma ação e outra.
sinto falta de passar bilhetinhos por debaixo da mesa e depois colar todos no meu caderno velho e cheio de orelhas. sinto saudade de conhecer as pessoas e gastar meu tempo com elas. quero me demorar aqui, sem sentir culpa.
esses dias, levei minha câmera pra arrumar. quero ver fotos em mini-binóculos e saber se fiquei bonita só 15 dias depois.
na quarta, peguei um ônibus sem livro e sem celular, cheguei ao meu destino sem ver nada extraordinário. que petulante!
você se lembra das manchas de escrita fresca que ficam na mão quando o pensamento não pode esperar e uma frase vai atropelando a outra? uma urgência lenta que não se resolve de forma síncrona.
sinto falta do mistério.
e de sentir dor nos meus punhos por tentar me fazer legível.
queria te ler também. saber se essas faltas são nossas e se você molha o biscoito no café.
sinto que, quando a gente escreve, deixa um pedaço no papel. talvez por isso seja tão difícil escolher as palavras certas…veja, estou há algumas linhas embaralhando palavras e sentimentos, só pra te perguntar:
- qual foi a última vez que você mandou uma carta?